quinta-feira, 17 de maio de 2012


Boa Viagem!

(Solange Depera Gelles – Falando de amor vol. II)



Luana entrou no quarto de Sarah sem bater na porta. A moça estava olhando a agenda.
- Está triste?
- Não mãe. Só estava pensando que poderia ser diferente.
- Diferente como?
- As pessoas não deveriam saber o dia de sua viagem.
- Nos antigos escritos consta a história de uma mulher que perdeu o filho de uma maneira trágica, revoltada ela olhou para o céu e começou a brigar com Deus. Ela disse que era injusto perder o filho de maneira tão dolorosa, sem aviso, sem preparo. Logo em seguida, arrependeu-se e chorando pediu perdão. Deus começou a falar com ela, perguntou como seria a maneira correta de morrer. E ela humildemente respondeu que deveria ser como uma viagem, com festa de despedida, preparo da família e amigos para aquela viagem sem volta. Deus pensou por uns minutos e decidiu que iria fazer um teste com a sugestão da mulher. O teste ficou para sempre. As pessoas recebiam ao nascer uma agenda com a data de sua viagem, então todos começaram a fazer boas ações, as pessoas começaram a amar-se mais, respeitando o próximo porque sabiam que um dia partiriam.  Enfim, foi muito melhor que o esperado.
- Essa palavra morte é muito forte.
- Forte e desagradável. Acho que eu prefiro assim. Quando seu avô viajou, eu pensei que iria chorar, mas ele estava tão feliz ao entrar no trem. Eu e minha mãe ficamos acenando até o trem sumir na curva.
- Você chorou?
- Chorei, porque ele ia viajar e o bilhete era só de ida. Mas aonde quer que ele esteja, sei que está muito bem.
- Eu não queria viajar agora. Lamentou Sarah.
- Sua passagem aqui foi tão linda. Se eu pudesse iria em seu lugar.
- Tem razão, minha passagem foi muito linda. Fui tão amada, foram 19 anos de felicidade. Será que vou gostar de lá?
- Não sei responder isso, mas sei que daqui quatro anos estarei lá com você.
- E lá você será minha mãe ainda?
- Acredito que não, lá seremos almas irmãs. Na verdade aqui já somos almas irmãs. Eu não poderia ter recebido de Deus filha melhor que você.
- Vou sentir sua falta!
- Também sentirei a sua, fazemos tantas coisas juntas...
- Faltam dois dias para dia 14.
- Vamos dar uma festa ou você prefere algo só para a família?
- Vou me encontrar com meus amigos amanhã à tarde. Podemos jantar naquele restaurante japonês que você gosta.
- Vou ligar para a vovó e combinar.
Luana saiu do quarto e viu Sarah ajoelhar para fazer uma prece de agradecimento.
No dia seguinte Sarah encontrou-se com os amigos, foi uma farra. Acabaram chorando porque não iriam mais ficar juntos. Á noite o jantar foi como uma volta ao passado, cada momento de Sarah foi contado detalhadamente pela avó, pela mãe, pelo pai e por seu irmão mais novo.
Finalmente dia 14 chegou. Na estação, a família e algumas amigas mais íntimas não cansavam de abraçá-la. O trem chegou e várias pessoas embarcaram. Sarah deu um último abraço em sua mãe e ao entrar no trem esbarrou em Alessandro.
- Desculpe. Disse Sarah sem jeito.
- Foi um prazer. Respondeu Alessandro.
- Um prazer?
- Um prazer, pois graças ao seu esbarrão terei companhia durante a viagem, eu posso sentar com você?
- Claro! Meu nome é Sarah.
- Eu sei. Respondeu Alessandro.
- Como sabe? Perguntou Sarah.
- Está é minha agenda, veja no dia 14.
Sarah abriu a agenda de Alessandro   no dia 14 e estava escrito:
“Viajar com Sarah”
Os dois olharam-se e sorriram. Sarah entendeu que a viagem não era o fim, e sim o começo. Um belo começo.
Na estação sua mãe disse baixinho quando o trem fez a curva:
- Boa viagem!