Boa
Viagem!
(Solange Depera Gelles – Falando de amor vol. II)
Luana
entrou no quarto de Sarah sem bater na porta. A moça estava olhando a agenda.
-
Está triste?
-
Não mãe. Só estava pensando que poderia ser diferente.
-
Diferente como?
- As
pessoas não deveriam saber o dia de sua viagem.
-
Nos antigos escritos consta a história de uma mulher que perdeu o filho de uma
maneira trágica, revoltada ela olhou para o céu e começou a brigar com Deus. Ela
disse que era injusto perder o filho de maneira tão dolorosa, sem aviso, sem
preparo. Logo em seguida, arrependeu-se e chorando pediu perdão. Deus começou a
falar com ela, perguntou como seria a maneira correta de morrer. E ela
humildemente respondeu que deveria ser como uma viagem, com festa de despedida,
preparo da família e amigos para aquela viagem sem volta. Deus pensou por uns
minutos e decidiu que iria fazer um teste com a sugestão da mulher. O teste
ficou para sempre. As pessoas recebiam ao nascer uma agenda com a data de sua
viagem, então todos começaram a fazer boas ações, as pessoas começaram a amar-se
mais, respeitando o próximo porque sabiam que um dia partiriam. Enfim, foi muito melhor que o esperado.
-
Essa palavra morte é muito forte.
-
Forte e desagradável. Acho que eu prefiro assim. Quando seu avô viajou, eu
pensei que iria chorar, mas ele estava tão feliz ao entrar no trem. Eu e minha
mãe ficamos acenando até o trem sumir na curva.
-
Você chorou?
-
Chorei, porque ele ia viajar e o bilhete era só de ida. Mas aonde quer que ele
esteja, sei que está muito bem.
- Eu
não queria viajar agora. Lamentou Sarah.
-
Sua passagem aqui foi tão linda. Se eu pudesse iria em seu lugar.
-
Tem razão, minha passagem foi muito linda. Fui tão amada, foram 19 anos de
felicidade. Será que vou gostar de lá?
-
Não sei responder isso, mas sei que daqui quatro anos estarei lá com você.
- E
lá você será minha mãe ainda?
-
Acredito que não, lá seremos almas irmãs. Na verdade aqui já somos almas irmãs.
Eu não poderia ter recebido de Deus filha melhor que você.
-
Vou sentir sua falta!
-
Também sentirei a sua, fazemos tantas coisas juntas...
-
Faltam dois dias para dia 14.
-
Vamos dar uma festa ou você prefere algo só para a família?
-
Vou me encontrar com meus amigos amanhã à tarde. Podemos jantar naquele
restaurante japonês que você gosta.
-
Vou ligar para a vovó e combinar.
Luana
saiu do quarto e viu Sarah ajoelhar para fazer uma prece de agradecimento.
No
dia seguinte Sarah encontrou-se com os amigos, foi uma farra. Acabaram chorando
porque não iriam mais ficar juntos. Á noite o jantar foi como uma volta ao
passado, cada momento de Sarah foi contado detalhadamente pela avó, pela mãe, pelo
pai e por seu irmão mais novo.
Finalmente
dia 14 chegou. Na estação, a família e algumas amigas mais íntimas não cansavam
de abraçá-la. O trem chegou e várias pessoas embarcaram. Sarah deu um último
abraço em sua mãe e ao entrar no trem esbarrou em Alessandro.
-
Desculpe. Disse Sarah sem jeito.
-
Foi um prazer. Respondeu Alessandro.
- Um
prazer?
- Um
prazer, pois graças ao seu esbarrão terei companhia durante a viagem, eu posso
sentar com você?
-
Claro! Meu nome é Sarah.
- Eu
sei. Respondeu Alessandro.
-
Como sabe? Perguntou Sarah.
-
Está é minha agenda, veja no dia 14.
Sarah
abriu a agenda de Alessandro no dia 14
e estava escrito:
“Viajar com Sarah”
Os
dois olharam-se e sorriram. Sarah entendeu que a viagem não era o fim, e sim o
começo. Um belo começo.
Na
estação sua mãe disse baixinho quando o trem fez a curva:
-
Boa viagem!